sábado, 18 de fevereiro de 2012

CAPÍTULO 06

Rio de Janeiro, 21 de Março de 2006

   Após o primeiro treino do time do Horacio Macedo, Gustavo chegou em casa ansioso para criar perfis e grupos virtuais, e postar suas fotos e o vídeo da torcida. Na sexta, as pessoas que viram o conteúdo divulgado por Gustavo, comentavam e o procuravam, querendo participar também da torcida.
   No intervalo do turno da manhã, Felipe chamou Gustavo, e o entregou um papel com a tabela da Liga. Gustavo correu para anunciar a todos do time a ordem dos confrontos, e o primeiro seria em casa. Era uma boa oportunidade para a equipe do Horacio Macedo e sua torcida começarem bem o campeonato. Os dois foram até o cartaz que João havia preenchido, e escreveram em uma outra cartolina colocada ao lado - nas mesinhas havia cobertura, e um quadro de avisos, então as informações sobre o clube e a torcida eram sempre postadas ali.
   Pegaram uma caneta hidrocor, e escreveram no quadro de jogos do Grupo 5:
 
21/03/2006 - 19:00 - Horacio Macedo x Visconde de Cairu - Maria da Graça                                21/03/2006 - 20:00 - Geremário Dantas x João Lyra - Praça Seca 
28/03/2006 - 19:00 - Visconde de Cairu x Pedro II Realengo - Méier 
28/03/2006 - 20:00 - João Lyra x Horacio Macedo - Quintino 
04/04/2006 - 19:00 - Pedro II Realengo x Horacio Macedo - Realengo 
04/04/2006 - 20:00 - Visconde de Cairu x Geremário Dantas  - Méier 
11/04/2006 - 19:00 - Pedro II Realengo x João Lyra - Realengo 
11/04/2006 - 20:00 - Horacio Macedo x Geremário Dantas - Maria da Graça 
18/04/2006 - 19:00 - Geremário Dantas x Pedro II Realengo - Praça Seca 
18/04/2006 - 20:00 - João Lyra x Visconde de Cairu - Quintino

   A informação foi se espalhando, e todos começaram a aguardar ansiosos por aquela terça-feira. Ao longo do fim de semana, Gustavo trabalhou em músicas, e prendeu alguns ilhoses em suas bandeiras. Ronaldo ligou para Gustavo no domingo à noite, e prometeu levar um pequeno tan-tan para animar a festa na arquibancada. Marcelo havia conseguido uma velha caixa da bateria de seu pai, que era músico. Jéssica, conforme prometido, passou todo o fim de semana picando papel para a festa de terça-feira. Os garotos, que já formavam o centro da torcida QDA, sabiam que aquele jogo seria bem importante para o futuro do futebol no Horacio Macedo. Os outros membros, Augusto, Washington e Bruno, só apresentariam suas prometidas surpresas no dia do jogo, segundo eles.
   Na segunda-feira, houve mais um treino, onde foi decidido que Jorge, um dos alunos do terceiro ano e futuro estudante de educação física, seria o treinador da equipe. Logo após o treinamento, uma longa conversa entre os jogadores e a torcida - que passara todo o treino ensaiando as músicas para o dia seguinte. Segundo Alessandro, em um acordo com a diretoria, ficou decidido que seria disponibilizado, mas apenas para o time, a kombi da escola, que era usada para serviços externos. A torcida, infelizmente, deveria se locomover por conta própria. E também lhes fora informado que, segundo regras do torneio, o time deveria chegar ao local da partida com antecedência, e sem membros de torcida junto deles. Os jovens da QDA não se importaram com isso, sua ideia era acompanhar o time, onde quer que ele fosse.
   Enfim, havia chegado o dia da estreia. O clima na escola era o melhor possível. Conforme pedidos da QDA, a maioria dos alunos vestia uma camisa azul por baixo do uniforme. Bandeirinhas azuis e balões de gás enfeitavam a entrada da quadra, e toda a escola aguardava ansiosamente por aquele jogo. Até mesmo alguns professores prometeram ficar até mais tarde para assistir à partida. Os jogos da Liga Municipal eram sempre às terças-feiras, alguns, das 19:00 às 20:00, e outros, das 20:00 as 21:00, divididos em dois tempos de vinte minutos cada.
   Durante o intervalo entre os turnos, toda a QDA se reuniu na quadra. Agora, a torcida contava com mais duas meninas e três rapazes, que resolveram se juntar à "Quadrilha" na segunda-feira. Washington, que carregava uma sacola enorme, resolveu revelar a surpresa: eram duas faixas de pano, enormes, uma azul e outra branca. Seriam amarradas na grade, e ficariam sobre a arquibancada atrás do gol. Ele, Augusto e Bruno se juntaram para comprar o pano, na loja onde a mãe de Washington trabalhava. Inclusive, agora já sabiam onde costurar bandeiras, e até mesmo uniformes. A mãe de Washington havia se oferecido para ajudar o time e a torcida, no que fosse possível.
   Penduraram as bandeiras, amarraram as faixas na grade - Washington e Augusto ficariam na parte de cima da arquibancada, segurando a ponta superior das faixas - e colocaram os instrumentos sobre os degraus. Na arquibancada lateral, a obra ainda não havia terminado por completo, e o acesso deveria ser feito por um degrau de madeira improvisado, na linha lateral da quadra. O que significava que a torcida deveria estar toda na quadra antes que o jogo começasse. Deixaram as coisas por ali, e desceram.
   Enquanto os alunos da tarde estavam em sala, Gustavo ficou arrumando os papeis picados em saquinhos, para distribuir a quem estivesse lá. Já sabia que a festa seria devidamente registrada, pois um dos alunos que vieram falar com ele, se comprometeu a fotografar e filmar todos os jogos na quadra do Horacio Macedo, incluindo a festa da torcida. De qualquer modo, sua câmera ia clicando todos os momentos do dia, incluindo a preparação da quadra para a grande festa.
   As horas demoraram a passar, mas depois de uma espera que parecia infinita, as aulas do turno da tarde estavam se aproximando do fim. Os alunos desceriam correndo para se ajeitar na quadra, já que ainda não havia muitos lugares disponíveis. Pouco antes que todos começassem a descer, Gustavo viu os alunos do colégio Visconde de Cairu entrando pela porta dos fundos da escola, e se dirigindo ao vestiário de visitantes. Cumprimentaram Gustavo, que vestia camisa azul e calça jeans, com um chapeu de pescador também azul - havia se caracterizado o quanto pôde. Um pouco depois, os jogadores do Horacio Macedo desceram direto para o vestiário ao lado da quadra.
   Jéssica desceu um pouco mais cedo, e se juntou a Gustavo na entrada da quadra. Enquanto conversavam e passavam novamente as letras das músicas, viram cerca de dez garotos, todos mal encarados e parecendo meio perdidos ali, entrarem pelo corredor do lado oposto da escola. Carregavam uma pequena faixa, escrito "Jovem do Méier". Certamente, eram a torcida do Visconde de Cairu, adversário daquela noite. Ao avistarem a quadra, se dirigiram para onde estavam Gustavo e Jéssica.
   - Escuta, rapá.. onde a gente fica aqui nessa quadra? - perguntou, em tom agressivo.
   - Entra aí, pelo portão da esquerda. Fiquem ali na parte superior - apontou Gustavo.
   Sem dar resposta, os rapazes subiram e amarraram sua faixa. E por lá permaneceram. Jéssica olhou assustada para Gustavo, que não soube o que comentar. Preferiram entrar, e ficar atrás do gol, na arquibancada, esperando os demais alunos.
   A aula do turno da tarde chegou ao fim, e a quadra ia enchendo lentamente. Todos que entravam, olhavam para os rapazes da torcida Jovem do Méier, sentados na escada, como se tentassem impedir o acesso de alunos do Horacio Macedo à sua área. Todos tinham cara de brigões, e não davam sorrisos para ninguém que os olhasse. Apenas conversavam e riam entre si, visivelmente debochando dos alunos da escola adversária.
   Já eram 18:30, os árbitros junto com o membro da federação que faria a filmagem já haviam chegado, e a quadra estava bastante cheia. Quase todo o espaço disponível foi ocupado, e os membros da QDA começaram a distribuir o papel picado para os demais alunos. Esperavam que todos tivessem ouvido as músicas, gravadas e postadas nos dias anteriores, nas comunidades virtuais da torcida.
   O ânimo entre todos era muito grande, e de uma maneira geral, seria uma experiência inédita para cada um ali. Mesmo para Gustavo, ou quem quer que fosse, acostumado com estádios e grandes jogos de futebol. Ninguém havia presenciado um jogo tão cheio, principalmente ali naquela escola. Faltavam 15 minutos para o início da partida, e Gustavo acenou para a entrada da quadra, onde Patrick, o futuro fotógrafo da torcida, se localizava. Ele começou a clicar tudo, no momento em que o time do Visconde de Cairu entrou em quadra, vestindo seu uniforme principal, com camisas, shorts e meias verdes. Foram saudar a torcida visitante, que gritava o nome do time e da própria torcida. A QDA inteira resolveu começar a cantar, pois a qualquer momento entraria também em quadra o time da casa.
   Numa paródia de Mulher de Fases, dos Raimundos, entoavam, animados: 

                          "Horacio, olhe pra sua gente                                                                                             Que te apoia o tempo inteiro, onde quer que vá                         
                          Eu canto, eu largo a minha vida 
                   Faço tudo o que eu posso pra te ver jogar 
   Não esqueça que essa galera atrás do gol te ama de verdade 
                Vamos, Horacio Macedo, tu és minha paixão 
              Vou cantar o tempo inteiro, pra te ver campeão 
                Vamos, Horacio Macedo, tu és minha paixão 
                   Vou cantar o tempo inteiro, vamos HM!"

   Enquanto a quadra se agitava, a equipe do Horacio Macedo entrou em campo, toda de mãos dadas. A festa foi espetacular. Até os jogadores e torcedores do Visconde de Cairu pararam para ver. Papéis picados aos montes, voavam pela quadra, todos pulando, aplaudindo. E a música tomou a quadra, num coro de causar arrepio todos cantavam o refrão da música. Gustavo não sabia se cantava ou sorria. À frente da torcida que ele havia fundado, não cabia em si de emoção. Era impressionante, para todo mundo ali, a proporção que aquilo havia tomado, de uma maneira tão rápida. Os professores da escola, na entrada da quadra, aplaudiam a festa e os jogadores, que tiveram algum trabalho para retirar os papeis picados do chão. Ao fim da música, uma salva de palmas veio da torcida, que na verdade, aplaudia a ela mesma. Gustavo, de longe o mais feliz e empolgado ali, começava a cantar outras músicas. Com o degrau de madeira já retirado da linha lateral, estava tudo pronto para começar a partida. As faixas verticais tremulavam nas mãos de Washington e Augusto, que pulavam incessantemente, assim como os outros membros da Quadrilha.
   Começou a partida, e agora somente a torcida, em volta da bateria e entre as faixas, cantava. O jogo era nervoso, acirrado, e até um pouco violento. O time do Cairu era, assim como aparentava ser sua torcida, bastante agressivo. Logo no começo do confronto, um jogador foi punido com cartão amarelo. Diversas faltas foram marcadas em seguida. Os jogadores do Visconde de Cairu pareciam mais experientes, enquanto os do Horacio Macedo jogavam com calma, e uma certa dose de ingenuidade.
   A partida seguia disputada e, no final da primeira etapa, o goleiro do Cairu rolou a bola para um jogador ao seu lado, que chutou forte, fazendo a bola desviar em Ricardo e ir para o gol. O time comemorou, assim como sua torcida na área visitante. Após dois segundos de silêncio, a QDA ressurgiu cantando extremamente alto. A batucada ficou mais forte, no momento em que o jogo foi para o intervalo. Durante os cinco minutos entre os tempos, os garotos da torcida respiraram, se prepararam para continuar a batalha, e voltaram a cantar alto e forte. Poucos entendiam o que se passava ali, poucos entendiam a ideologia daqueles jovens que, mesmo tristes, cantavam como se seu time estivesse ganhando a partida.
   Começou o segundo tempo, no mesmo ritmo do primeiro, e seguia a festa atrás do gol. Com cerca de cinco minutos, Alessandro lançou a bola para Anderson, que chutou de primeira no ângulo. A quadra parecia que iria desabar. Era o primeiro gol desta nova era do Horacio Macedo, feito por um calouro, assim como toda a criação daquela festa, e a comemoração não poderia ter sido maior. Voaram balões de gás, papeis picados, e até mochilas para o alto. A gritaria foi ensurdecedora. Os professores se abraçavam, comemoravam, aplaudiam, até os zeladores da escola ficaram lá para ver o jogo, e pulavam junto. A torcida gritava, descontrolada, um belo "Ôôôôô" em coro, de melodia contagiante. Os membros da QDA giravam suas camisas no alto. No meio da festa, Wellington driblou o goleiro e tocou para o fundo das redes. Em apenas dois minutos, o time do Horacio Macedo virou o jogo. E aí sim, a festa tomou proporções absurdas. Os torcedores do Visconde de Cairu, que durante o primeiro tempo esboçaram alguns cânticos, após a virada ficaram quietos, observando - e um deles, que registrava a passagem de seu colégio por Maria da Graça, até mesmo fotografando o show que a Quadrilha de Maria da Graça dava na arquibancada.
   Numa melodia maravilhosa, a QDA entoava:
 
                        "Vamos, Horacio Macedo                                                                                                       Que esta noite, temos que ganhar 
                        Vamos, Horacio Macedo 
              Que eu estou contigo, sempre a te apoiar 
                         Dá-lhe, dá-lhe dá-lheô 
                   Dá-lhe dá-lheô, e dá-lhe dá-lheôô"

   O jogo ia passando, e a equipe da casa parecia administrar o resultado. O time do Méier não esboçava reação e, por volta dos 15 minutos, Wellington chutou para mais um gol. Era a cereja no bolo daquela noite. 3 x 1 para o time do Horacio Macedo, uma estreia impecável, e a festa da QDA podia ser ouvida até na pracinha, do lado de fora da escola.
    Ao apito final do juiz, uma salva de palmas e gritos tomou conta da quadra. Mais papel picado para celebrar a vitória. O time fez questão de ir até a arquibancada reverenciar a torcida. Gustavo desceu até a grade atrás do gol, e apertou com força a mão de Alessandro, que não se continha de felicidade.
   - Obrigado, cara! Muito obrigado! Você fez isso tudo aqui! Você e a Quadrilha! Obrigado por isso, de verdade.
   - Que nada. Nós que agradecemos. Hoje foi lindo demais, tomara que seja assim sempre.
   Ninguém sabia onde aquilo iria parar, mas sem dúvida a noite foi inesquecível para cada aluno ali presente. Logo no fim do jogo, os rapazes da Jovem do Méier recolheram sua faixa, e saíram da quadra antes dos torcedores locais. Os alunos se retiraram, apressados para voltar às suas casas, mas Gustavo, a QDA e os jogadores, não tinham pressa. Ajudaram a fechar a quadra, e foram caminhando lentamente até a praça. Os jogadores, visivelmente exaustos, entraram no primeiro ônibus, mas os meninos da QDA, junto com Carla e Jéssica, ficaram por ali até cerca de 21:00. A maioria morava na região de Ramos, Bonsucesso, Higienópolis e adjacências, com exceção de Carla, que ainda sim os acompanharia. Após todos saírem, Washington, que iria para Jacarepaguá, decidiu ir embora junto com Gustavo. Mas, quando avistaram o ônibus chegando, notaram a presença dos membros da JDM do outro lado da rua. Haviam esperado esse tempo todo, talvez para um eventual ataque a eles. Quando correram na direção de Gustavo e Washington, para sorte dos dois, o ônibus parou no ponto. Entraram rapidamente, assustados, e os rapazes recuaram. Antes do coletivo partir, um dos garotos arremessou uma garrafa plástica vazia na janela onde sentaram, e gritou:
   - Fiquem de olho aberto! Torcida não é brincadeira, nem festinha! Tamo de olho em vocês! Aqui é território nosso!
   Sabiam que aquilo não era, de fato, um aviso sem importância. Sem perceber, estavam entrando num mundo um pouco mais violento do que pensavam. Para permanecer na ideologia de apoio incondicional ao time, deveriam superar alguns desafios, e o caminho não seria simples de percorrer.
   Gustavo, pensando que teria uma noite tranquila após aquela linda comemoração, não conseguiu dormir tão bem quanto o planejado.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Capítulo 05

Rio de Janeiro, 16 de Março de 2006


   Chegou a quinta-feira, dia do sorteio de grupos da Liga Municipal Intercolegial. E dessa vez a quadra já poderia ser parcialmente utilizada para que o time treinasse à noite. Gustavo chegou para a aula no horário normal, segurando uma sacola muito bem fechada, protegendo-a como à própria vida. Quem já estava ciente do assunto, imaginou que poderia ser algo para se revelar mais tarde, na hora do treino.
   Durante as aulas, os jogadores que estudavam à tarde passaram pelas salas recolhendo dinheiro para os uniformes. Naquela tarde, enquanto os jogadores da tarde ficassem acompanhando o sorteio pela internet, Gustavo e os outros iriam comprar e estampar os números nos uniformes do time.
   Ao fim do turno da manhã, todos se reuniram nas mesinhas da escola. Separaram o dinheiro, que já sabiam ser o suficiente para os uniformes, e se dividiram entre os que ficariam na escola durante o sorteio, e os que iriam às ruas preparar os uniformes. Resolveram sair logo dali, para que tudo fosse resolvido o mais rápido possível. O sorteio seria no horário do intervalo do turno da tarde, e todo o colégio estava bastante ansioso para conhecer os adversários no torneio.
   Gustavo, ainda carregando sua sacola, e mais alguns jogadores pegaram o metrô para o centro da cidade, onde comprariam as camisas no modelo já previamente escolhido. Não havia recursos para aplicar detalhes ao uniforme naquele momento, então simplesmente queriam camisas azuis, shorts brancos e meiões azuis. Wellington sabia onde conseguir tudo, e foram direto à loja. Lá chegando, encontraram a quantidade exata que precisavam. Somente os coletes estavam em falta. Mas era o menos importante até então. Fizeram as contas, pediram um bom desconto, e por lá mesmo deixaram os uniformes com a lista de nomes e números, para que fossem feitas as estampas.
   Perceberam, então, que havia tempo para voltarem ao colégio e tentar acompanhar o sorteio. Correram bastante até o metrô, e ao retornar a escola, não viram ninguém na praça. O que significava que o sorteio estava sendo realizado. Voaram para o interior da escola, e lá chegando, viram que Alessandro havia organizado tudo: ele e os jogadores estavam na entrada da quadra, de frente para todos, com um laptop sobre a mesa. Do lado, um cartaz onde João, um dos calouros do time, ia anotando os nomes dos times nos grupos, à medida que eram sorteados. O sorteio havia começado a pouco tempo, até então só havia dez times sorteados, e o Horacio Macedo ainda não fora anunciado. Conforme cada escola era sorteada, a organização do torneio anunciava a localização da mesma. E Marcos, outro calouro, anotava tudo.
   - Venham aqui, pessoal. - Alessandro chamou os garotos que vinham do centro - Ainda não fomos sorteados.
   A Liga Municipal era composta por 16 grupos, com cinco times em cada. Assim, cada equipe de cada grupo jogaria duas partidas em casa, e duas fora. Dentre estes 80 times, que compunham a primeira divisão, os piores de cada grupo eram rebaixados. Os dois líderes de cada grupo se classificavam para a segunda fase, em confrontos diretos eliminatórios, ida e volta. E assim o campeonato seguiria até as finais, em jogo único, realizado em local neutro a ser escolhido de acordo com a localização das escolas.
   - Agora já temos um time em cada grupo. Tomara que o sorteio não seja cruel conosco, e possamos jogar aqui perto. Vamos lá, mais um time para cada grupo a partir de agora.
O sorteio ia correndo, e enquanto isso, Gustavo se retirou de perto da mesa, e foi para dentro da quadra. Mais tarde, haveria o treino, e ele queria preparar a parte da quadra já disponível, para surpreender os jogadores quando lá entrassem. Começou a desembrulhar seu pacote, e de lá tirou cinco bandeiras, quatro azuis e uma branca. Na maior de todas, havia escrito "QDA", e a descrição "A Quadrilha de Maria da Graça" logo abaixo. Seria a faixa principal, por enquanto. Na branca, pintara com tinta azul "Colégio Estadual Professor Horacio Macedo - Maria da Graça, Rio de Janeiro/RJ - Brasil". Nas outras três, as frases "Horacio Macedo, te amo", "Maria da Graça" e "Apoio Incondicional".
   Gustavo pendurou tudo cuidadosamente, pegou sua câmera, fotografou a quadra em obras, e as faixas ali penduradas, atrás do gol. Aquele seria o local escolhido para que a torcida ficasse durante os jogos. A quadra possuia um lance de alguns degraus atrás do gol, um longo lance de degraus tomando toda a lateral direita de quem entrava na quadra. Ao lado da entrada, duas escadas, uma para cada lado. A da direita dava acesso à parte superior das arquibancadas, enquanto a esquerda apenas servia para acessar uma pequena área, onde ficariam as torcidas visitantes. Os times entravam pelos mesmos portões que suas respectivas torcidas, e se dirigiam ao lado esquerdo da quadra, onde não havia arquibancadas, somente os bancos de reservas e área técnica.
   - Gustavo! - Alessandro o chamava da parte de fora da quadra - Tá fazendo o que aí dentro, cara? Vem, terminou mais uma parte do sorteio! Dois times em cada grupo, por enquanto nada do Macedão.
   Do lado de fora, o cartaz ia sendo preenchido, e com Marcos, estava o papel com a localização de cada escola. Gustavo via ali diversos bairros, de Realengo à Copacabana. Notou ali o nome de um colégio particular, bem próximo à sua casa. Era o Colégio João Lyra Filho, e Gustavo tinha vários amigos lá. Lembrou-se logo de Marlon, seu amigo de infância, que estudava lá a um bom tempo. Havia ouvido algo sobre uma torcida chamada Mancha Amarela, fundada por colegas de Marlon, mas não sabia a quantas andava a ideia. Certamente, no colégio João Lyra também estavam acompanhando o sorteio.
   As equipes iam sendo distribuídas pelos grupos, uma a uma. Bangu, Centro, Madureira, Méier, Cascadura. Até que Gustavo, um pouco disperso com tantas ideias sobre o que fazer para a torcida, ouviu o nome que tanto esperava.
   - Aí, pessoal! Somos nós! Colégio Estadual Professor Horacio Macedo, de Maria da Graça. Estamos no Grupo 5, por enquanto com o Colégio João Lyra Filho, de Quintino, e o Visconde de Cairu, do Méier. Tudo pertinho! Maravilha!
   Gustavo ficou espantado com tamanha coincidência. O colégio de seus amigos, no mesmo grupo do colégio em que agora estudava. Certamente ligaria para Marlon de noite.
   - Alessandro, o Colégio João Lyra é muito próximo à minha casa. Alguns amigos meus estudam lá. Inclusive, meu amigo de infância, Marlon, é membro de uma torcida organizada por lá. A Mancha Amarela. Vou falar com ele ainda hoje, contar essa novidade.
   - Boa, cara! Já sabemos que seremos bem recebidos em pelo menos uma quadra! - riu.
   Mais uma rodada de equipes foi finalizada. A cada time sorteado, ficava a expectativa para que, no Grupo 5, só houvessem equipes de bairros próximos à Maria da Graça. Mas não seria tão simples.
   - Colégio Geremário Dantas, Praça Seca, Jacarepaguá. Grupo 5. - Alessandro anunciou, desapontado. Ainda sim, sabia que poderia haver coisa pior.
   O grupo 5 ainda seria fechado com uma escola de Realengo. O adversário mais distante do Horacio Macedo. Todos esperavam que o jogo contra eles fosse em casa. Mas só no dia seguinte teriam esta resposta. Ao fim do sorteio, foi anunciado ainda, pelo site da Federação Intercolegial, que as partidas seriam transmitidas pela internet, direto do site onde foi realizado o sorteio, e para isso, em cada jogo haveria um funcionário na quadra filmando tudo.
   Conhecidos os confrontos do colégio, os alunos aos poucos voltavam para suas salas. Alessandro guardou a mesa e levou o laptop de volta para a diretoria. Os jogadores da tarde subiram, enquanto o resto do time foi até o refeitório, já que treinariam à noite.
   - Bom, então é isso. Quatro jogos, dois próximos e dois distantes. Podemos ser bastante sortudos, e fazermos fora de casa só os jogos no Méier e Quintino. - comentou Alessandro.
   - Ah, mas a diretoria falou que iria nos ajudar. Se for necessário, a gente pede para eles nos levarem até lá. Quer dizer, espero que possamos contar com isso. - sugeriu Marcos.
   - É. Mas acho que eles darão suporte somente para os jogadores. Não temos como saber se haverá transporte para a torcida também. De qualquer modo, Gustavo, por enquanto só tem você. Então, você pode ir com a gente.
   - Verdade - respondeu Gustavo -, ainda posso ir com vocês. Mas não quero que a torcida seja só eu. Senão, não faz sentido. Preciso convocar mais gente.
   Coincidência ou não, logo após Gustavo falar isso, entraram cinco garotos e uma menina no refeitório. Foram até a mesa onde estavam os rapazes, e se apresentaram. Eram Jéssica, Bruno, Washington, Marcelo, Augusto e Ronaldo.
   - Você é o Gustavo, que fundou a torcida QDA, né? Então, nós queremos participar também. O que precisamos fazer? - perguntou Bruno.
   - Bom, vocês já participam - riu.
   - Como assim, cara?
   - É. Vejam, não temos carteirinha, nem sede, nem presidente, nem nada do tipo. Vai ser só um movimento de apoio ao time, por enquanto, sem nada institucionalizado. Então, eu, como único membro da torcida até agora, posso afirmar que vocês, e qualquer outro que chegar lá pra torcer, já está dentro. Minha ideia é uma só: apoiar o time o tempo inteiro, alucinadamente.
   - Perfeito! Então, estamos dentro. Mas, e já temos músicas para cantar? - indagou Jéssica.
   - Olha só! Sabia que estava faltando alguma coisa! - disse Gustavo, para risada geral. - Bem lembrado, não tem música nenhuma ainda! Até porque, eu estava fazendo uns panos em casa e não parei para pensar a respeito. Mas, vamos nos reunir pela internet, e acertamos isso. Criarei grupos em vários sites, vamos divulgar a ideia, e ver se mais alguma outra escola participa desse tipo de movimento também. Lá, eu posto as fotos dos panos, e a gente pensa em músicas. Mas não se preocupem, eu me encarregarei de criar algumas, provisórias, para esse primeiro jogo, que ainda não sabemos contra quem será, nem onde será. Combinado?
   - Combinadíssimo! Então, somos da QDA agora! Vamos tentar aparecer na quadra depois da aula, para vermos o treino. A gente se fala por aí, Gustavo! Foi um prazer, amigo! - se despediram os seis, saindo do refeitório. Alessandro, pensativo, perguntou:
   - Gustavão, seguinte: que panos são esses? Já estão prontos? Aliás, cadê a sacola que você estava segurando?
   - Deixa isso pra lá, Alê. Mais tarde a gente conversa sobre. - Gustavo desviou o assunto.
   No final da aula, os seis jovens que foram até Gustavo no refeitório, desceram de suas salas em direção à quadra. Gustavo e o time esperavam, na porta, pelos outros jogadores.
   - Grande Gustavo! Não estou sabendo, mas diga: tem alguma parte da arquibancada em que já podemos ficar? - perguntou Washington.
   - Bom, atrás do gol já está pronto. Só falta a arquibancada lateral direita, e a parte dos visitantes. Mas, para acessarmos a parte de trás do gol, ainda temos que andar pelo meio da quadra.
   - Ah sim. Então, acho que o time todo vem aí, vamos entrar?
   - Vamos! Jogadores, atenção: o trabalho não está perfeito, foi tudo preparado muito às pressas, virei a noite fazendo isso, mas espero de coração que gostem. - disse Gustavo, enquanto entravam na quadra. Apontou para as bandeiras penduradas atrás do gol, no lado oposto. Os jogadores todos correram para vê-las de perto.
   - Olha só que irado, cara! Me amarrei mesmo! Parabéns, Gustavo! Tá lindo! Agora sim a coisa vai pra frente! Me sinto ainda mais motivado para ganharmos nesse campeonato. - exclamou Marcelo, jogador do segundo ano.
   Gustavo e os outros subiram para a arquibancada atrás do gol, para assistir ao treino do time. Enquanto tocavam bola e se aqueciam, tiveram a ideia de cantar o nome de cada jogador ali, para incentivá-los durante o treino. Era a primeira vez que se manifestava uma torcida naquela quadra.
   - Alessandro! Marcelo! Ricardo! Wellington! Felipe! Bruno! Anderson! Marcos! Marcos Silva! João! - eram os gritos, seguidos por aplausos. De fora da quadra, ouvia-se a empolgação dos sete torcedores. Algumas pessoas chegavam a entrar na quadra para saber o que acontecia.
   Depois disso, começaram a gritar o nome da escola. "Horacio, Horacio!!", e entoaram então o que seria a primeira música da torcida. Em cima do clássico When The Saints Go Marching In - que muitas torcidas de grandes clubes entoavam -, começaram a gritar o nome da escola:


                                                                    "Horacio-ô! 
                                                                     Horacio-ô!
                                                              Horacio-ô ô ô ô ô!
                                                             Horacio-ô ô ô ô ô!
                                                            Horacio-ô ô ô ô ôô!"

   Os jogadores até pararam o treino para observar. Os últimos alunos que saiam da escola, entaram na quadra para ver. Não fazia muito sentido, aquelas sete pessoas pulando atrás do gol durante um treino, à noite, mas era bonito de se ver. Gustavo colocou sua câmera na parte alta da arquibancada, e ficou ali filmando aquela pequena festa.
   Ao final do treino, os membros do time foram até a arquibancada aplaudir os garotos da QDA. Nunca tinham visto nada parecido com aquilo. Gustavo soltou as bandeiras, embrulhou todas cuidadosamente, e assim terminava um dia bem movimentado, tanto para jogadores quanto para aquela nova torcida que ali nascia.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Capítulo 04

Rio de Janeiro, 15 de Março de 2006


   No dia seguinte à festa do trote, as obras na quadra começaram. Logo na quarta-feira, foram colocadas todas as lâmpadas, pela manhã. Gustavo mal conseguia prestar atenção nas aulas, onde os professores já começavam a passar trabalhos para casa. Ele só conseguia pensar em como poderia ajudar o time. Passou horas em casa desenhando, projetando bandeiras, faixas, e pensando num nome pra uma torcida. Algo marcante, que chamasse atenção, um nome se possível agressivo, apesar do intuito inicial de apenas apoiar o time. Mal sabia, entretanto, se teria apoio de alguém nessa empreitada.
   Naquele dia, depois da aula, o time se reuniu apenas para conversar, já que não podiam treinar na quadra em obras. O único que não estava presente era Wellignton, que estava fazendo a inscrição da equipe na Liga Municipal, próximo à sua casa. Nas mesinhas da escola, Felipe sugeria cores e uniformes.
   - Acho que se a gente usar azul, fica foda. Depois fazemos um segundo uniforme branco. E arrumamos uns coletes cinzas, pra emergência, coisa simples. Agora precisamos é decidir como vai entrar a grana pros uniformes. Acho que a galera não vai ligar de contribuir. Podemos pedir pelas salas. Mas temos que agilizar isso logo, amanhã já é dia do sorteio de grupos do torneio.
   Resolveram acatar a ideia e ficar com o uniforme azul. Era simples, com uma listra branca nos ombros. Shorts brancos, meias azuis. O segundo uniforme seria o oposto. Gustavo e todos do time gostaram da ideia. Agora restava conseguir o principal: o dinheiro para os uniformes. Decidiram fazer uma campanha de arrecadação pela escola. Não seria difícil, se pelo menos metade dos alunos contribuisse.
   Mas, antes de começar a fazer qualquer coisa, Gustavo tinha algo a falar. Abriu sua mochila, pegou uma pasta, colocou todo o conteúdo sobre a mesa, na frente dos jogadores da equipe. Eram papéis com desenhos de faixas, bandeiras, arquibancadas, frases, nomes, rabiscos. Então, começou a explicar:
   - Pessoal, isso tudo aqui levou algum tempo para ser projetado. Pensei num nome, numa ideologia, e cheguei a essa ideia. Eu vos apresento a Quadrilha de Maria da Graça. A QDA. Está fundada neste exato momento a torcida organizada oficial do Colégio Estadual Professor Horacio Macedo.
   Alessandro arregalou os olhos, surpreso e ao mesmo tempo emocionado. Não sabia qual era exatamente a ideia de Gustavo, mas o indagou:
   - Cara, você teve essa ideia sozinho? Ou já tem mais gente pra compor isso?
   - Bom, como eu fiz tudo sozinho, por enquanto sou só eu. Mas eu vou ver se tem mais gente interessada. Juntar uma galera, pelo menos um pessoal pra fechar sempre, sabe? Ir em todos os jogos, cantar, batucar, fazer a farra toda. Tenho certeza, deve ter mais umas dez pessoas aqui pelo colégio com essa cabeça também.
   - Entendi. Então pode contar com a gente! Agora é o Horacio Macedo com a QDA, sempre! Todo mundo de acordo?
   Não havia como discordarem. A ideia era ótima. Além de definir um projeto de uniforme, agora, como um incentivo ainda maior para o time, haveria uma torcida disposta a tudo para acompanhá-los e incentivá-los. A coisa começava a tomar um ar quase profissional para aqueles jovens.
   Ao fim da reunião, Gustavo preferiu ir para casa. Havia muita coisa a fazer, principalmente agora que já sabia qual seria a cor do time. Pegou o ônibus e não desceu em casa, foi direto a Madureira, comprar tecidos e tinta para começar a trabalhar logo. Enquanto isso, ainda na escola, começou a arrecadação de dinheiro para os uniformes. A todo mundo, era apresentado o projeto, as cores, e os garotos faziam questão de mencionar a ideia da torcida organizada que Gustavo havia fundado. A reação inicial de todos era, claramente, de espanto. Até pouco tempo atrás, o futebol no Horacio Macedo era uma diversão sem investimentos. Agora, já pensavam em torcida organizada, faixas, uniformes...
   Ainda assim, os garotos do time conseguiram arrecadar um bom dinheiro. Alguns doavam poucas moedas, outros até dez reais, professores e funcionários também foram solicitados e contribuiram com o que podiam. Com o dinheiro daquele dia, já era possível comprar e estampar o primeiro uniforme todo, mais os coletes. O resultado da arrecadação superou as expectativas. Mas também começou a gerar uma certa pressão na cabeça dos jovens jogadores. Agora, deveriam representar a escola mais do que qualquer um já havia feito. Não sabiam até que ponto aguentariam a responsabilidade, mas certamente, até onde chegaram, já estava no mínimo bastante divertido.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Capítulo 03

Rio de Janeiro, 13 de Março de 2006

   Durante o fim de semana, enquanto o time do colégio divulgava sua "agenda" na internet, Gustavo elaborava um pequeno documento, a ser entregue para a diretoria, onde inclusive, falava sobre os próprios alunos participarem com o que fosse possível, na reforma da quadra e no apoio ao time. Anexou o abaixo assinado, e guardou todo o seu trabalho na mochila. Na segunda-feira não haveria aula para o 1º e o 3º ano. Mas todos estariam na escola para a festa do trote. Haveria muita tinta, comida, bebida, mas antes o diretor do colégio, o senhor Jaime Martins, falaria com os alunos, aproveitando a ocasião já que não pudera estar lá na semana anterior.
   Gustavo não pregou os olhos na madrugada que antecedeu o "grande dia". Tinha a forte convicção de que tudo daria certo, e apesar de pouco tempo na escola, começava inclusive a imaginar seu nome circulando pelos corredores. Ainda que não fosse essa sua pretensão, sabia que sua ideia seria reconhecida. Sonolento, mas muito animado, se vestiu e chegou no horário normal ao Horacio Macedo. A festa só seria por volta das 10 horas, e envolveria os dois turnos. Mas, ansioso, Gustavo não aguentou esperar.
   Alessandro desceu do ônibus na porta da escola, junto com mais alguns veteranos, todos vindos do Méier. Já eram cerca de 8 da manhã, e Gustavo fazia um lanche, já que havia saído correndo, muito cedo, de casa.
   - E aí, calouro! Beleza? O negócio é o seguinte.. hoje a gente vai falar com a diretoria, mas depois na hora do trote, você não é mais meu amigo, ok? - Alessandro decretou, rindo da cara de susto de Gustavo.
   - Certo, certo! Essa é a regra! - sorriu, timidamente.
   Aos poucos o tempo ia passando e os alunos chegavam, todos sem uniforme, preparados para se sujar. Somente os alunos do segundo ano estavam em sala. Gustavo notou um carro estacionando dentro da escola, e de lá saiu um homem alto, bigodudo e que sorria para todos. Lembrou das fotos que havia visto e reconheceu ser o diretor, senhor Jaime Martins, conhecido por ser ausente porém bem simpático e receptivo.
   Quando o relógio já marcava 9:30, o diretor subiu no pequeno palco do auditório da escola, e reuniu todos os calouros. Deu as boas-vindas aos alunos, pediu desculpas por sua ausência na semana anterior, falou sobre algumas normas do colégio e sobre suas expectativas para mais um ano letivo. Ao fim de seu discurso, na saída do auditório, Gustavo o abordou.
   - Senhor diretor. Muito prazer, meu nome é Gustavo, sou aluno do primeiro ano.
   - Não precisa me chamar assim. Não me incomodo que digam meu nome - debochou.
   - Bom, então tudo bem. Jaime, cheguei recentemente aqui e notei que a quadra tem obras inacabadas, falta iluminação e estrutura para o time de futebol da escola. Conversei com os jogadores do time, que agora conta com alguns calouros também, e notei que os outros alunos até gostariam de acompanhar os jogos do time, mas os desanima o fato de a diretoria não dar a devida atenção a eles. Me perdoe desde já, por parecer que eu estou questionando sua administração. Me desculpe mesmo..
   - De maneira alguma, filho. Prossiga - interrompeu o diretor.
   - Certo. Então, os calouros e veteranos se juntaram, e fizemos uma campanha de divulgação do time aqui do Horacio Macedo. Também recolhemos assinaturas de praticamente todos os alunos dos dois turnos, e resolvemos entregar este documento ao senhor - disse, enquanto pegava a pasta com o documento redigido na mochila.
   - Ok, vou analisar. Mas teria como você resumir do que se trata? - indagou.
   - Bom, é um pedido em nome de todos, para que a diretoria faça um investimento na quadra, e em estrutura para o time, como bolas, uniformes e afins. Queremos ajudar no que for possível, para que todos juntos possam, através do futebol, divulgar o nome da escola da melhor maneira que conseguirmos.
   - Perfeito. A ideia me parece ótima. Temos apenas a questão de verba, mão-de-obra, essas coisas. Você deve saber como é. Por sermos um colégio público, tudo deve passar pelo crivo do governo antes de ser feito. Mas, se é um desejo de tanta gente - disse, observando espantado a quantidade de assinaturas - farei tudo o que puder. Nem que isso envolva sacrifícios pessoais, se é que me entende.
   - Entendo sim, diretor. E fico muito feliz com a sua resposta. Bom, era só isso mesmo. Vou lá, algumas latas de tinta me esperam. - disse, enquanto se afastava ouvindo a risada do diretor, que ainda lia o documento.
   Gustavo correu para a entrada da quadra, e lá encontrou Anderson, que o aguardava ansiosamente.
   - E aí, cara? Fiquei daqui vendo o diretor olhando o papel, e rindo. Como foi?
   - Ele falou que vai fazer o possível, mas que aprovou a ideia, e ficou espantado com a quantidade de gente que contribuiu com assinaturas e se dispôs a ajudar. Acho que ele mesmo não sabia quanta gente aqui gostava de futebol.
   - Puta que pariu! Então vai dar tudo certo! - exclamou, sendo interrompido pelo grito de um dos veteranos. Era a ordem para entrarem na quadra.
   A festa para Gustavo e Anderson foi particularmente mais divertida. Até então, só os dois sabiam da conversa com o senhor Jaime. Mas, depois de todo o banho de tinta, Alessandro e os outros rapazes do time vieram procurá-lo. Sabendo da notícia, logo trataram de espalhá-la. Grande parte dos alunos, apesar de terem gostado da ideia, ainda não tinham dimensão dos projetos que o time e Gustavo tinham em mente. No fundo, nem eles mesmos sabiam onde aquilo poderia chegar.
   Algumas horas depois, já no fim da festa, Gustavo viu o diretor entrando cuidadosamente na quadra e se dirigindo a Alessandro. Imediatamente, ele correu até Gustavo.
   - Cara, vamos ligar o microfone lá perto do gol, o diretor vai anunciar uma parada muito foda! Vai, vai! - dizia, correndo para improvisar um palco com caixotes.
   - Alunos, gostaria da atenção de vocês. - disse o diretor, se ajustando ao palco. Enquanto isso, os alunos do segundo ano no intervalo se aproximavam da quadra. - Estive hoje conversando com o aluno Gustavo, do primeiro ano, e recebi de suas mãos um documento que continha assinaturas de praticamente todos os alunos daqui. Falava sobre o futebol, e os projetos que ele e o time da escola têm. Me foi solicitado que fizesse um esforço maior afim de concluir as obras na quadra. E eu venho aqui anunciar que, depois de alguns telefonemas e e-mails, consegui um auxílio para que as obras na quadra sejam terminadas. De imediato, instalaremos as lâmpadas, já que o teto foi o primeiro a ser reformado e se encontra em perfeito estado. Como o material da arquibancada já está todo aqui, só precisaremos de alguns dias para que sejam montados os degraus. Talvez só demore um pouco mais para fazermos os uniformes, mas caso alguém tenha uma sugestão barata e eficaz, fique a vontade para citá-la. Fui informado de que, até quinta-feira, o time deverá enviar a inscrição para a Liga Municipal. Eu ordeno que façam isso! - disse, para risada geral. - Encerro pedindo desculpas a todos, acho que não tive noção do quanto isso poderia ser importante para vocês. Muito obrigado pela atenção dada.
   O discurso do diretor foi sucedido por uma enorme salva de palmas, e se ouvia de longe a comemoração dos alunos. Alessandro abraçou Gustavo, feliz.
   - Valeu, calouro! Agora é tudo nosso! Vamo ganhar de geral! Agora a coisa funciona!
   O ano não poderia ter começado melhor no Horacio Macedo.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Capítulo 02

Rio de Janeiro, 9 de Março de 2006

   Na terça, alguns calouros foram procurar os jogadores do time. Anderson, até então o amigo mais próximo de Gustavo, foi o primeiro a falar com os veteranos. Mais três garotos se dirigiram até eles: Marcos, João e um outro Marcos. Os quatro fariam uma espécie de jogo treino contra o time atual. Não havia técnico na equipe, portanto eram os próprios jogadores que se organizavam e decidiam quem participaria da equipe ou não.
   - Galera, vocês têm goleiro? Só tem quatro aí.
   - Bom, eu agarro. A gente pode jogar só com três, se for o caso. Vai ser coisa rápida, né? - respondeu João.
   - Não, vamos fazer assim. Bruno, joga no time deles. É bom que, jogando no mesmo lado que os caras, dá pra ver se eles sabem mesmo ou não.
   - Certo, Alê. Então vamo lá, pessoal - Bruno se dirigiu ao outro time, se apresentou a todos e começaram a jogar. Gustavo observava atentamente, mas com olhos de torcedor. Sua cabeça fervilhava de ideias, enquanto os quatro calouros mostravam muita habilidade contra o time. Algo lhe dizia que essa nova geração poderia mudar a maneira do colégio ver os jogos de futebol.
   Cerca de vinte minutos depois, Bruno, que jogava do lado dos calouros, pediu para que se encerrasse a partida. Queria falar com seus amigos de time, e comunicar a decisão aos aspirantes a novos jogadores.
   - Pessoal, a gente se amarrou em jogar com vocês, e acho que todo mundo tem potencial pra jogar no time. Os quatro representaram muito e nos surpreenderam. Não quero que os outros pensem que qualquer um vai jogar aqui, até porque, não queremos superlotar o time. Mas pela iniciativa dos quatro, e pela qualidade de vocês, acho que agora nosso time tem oficialmente dez jogadores - proclamou Alessandro, que era goleiro e capitão do time. A decisão foi muito comemorada, principalmente por Marcos, que Gustavo percebeu ser o mais fanático por futebol, e mais animado para entrar na equipe.
   Enquanto ainda conversavam, Gustavo - o único que ficou até o fim do treino, dessa vez - se aproximou dos jogadores e resolveu puxar assunto.
   - E aí, rapazeada.. eu sei que eu não jogo, mas posso me chegar aqui?
   - Claro, irmãozinho! Senta, diz aí.. o que achou?
   - Me amarrei! Eu não sei se comentei com vocês, mas já falei com o Anderson e com o João, que são da minha turma. Sou muito fã de futebol, frequentador de estádios, um torcedor assíduo. E nesses dias eu andei pensando, e resolvi comentar com vocês: agora que o time fechou com vocês dez, por que não vamos na diretoria pedir um investimento aqui na quadra e na estrutura do time?
   - Cara, a gente tá querendo fazer isso a algum tempo, mas acontece que os próprios alunos daqui não acompanham o time, os professores de educação física não dão aquela moral, e aí a gente acaba ficando sem uma base pra pedir alguma coisa, sacou? - respondeu Ricardo, aluno do 2º ano e artilheiro do time.
   Gustavo, apesar de compreender a situação, seguiu com sua ideia:
   - É, eu tava reparando que a galera não ficou tão animada a princípio, perguntamos pra outros veteranos, e eles falaram que até gostariam de ver os jogos, só que não gostam de se deslocar pra outras quadras. Mas acho que podemos criar um ciclo interessante. Eu tenho umas ideias, podemos falar com o pessoal na internet, espalhar uns cartazes, ir nas salas. Aí mobilizamos todo mundo e fazemos um abaixo assinado, convocamos todo mundo, e na festa do trote, já que a diretoria vai estar toda aqui, falamos com eles.
   - Você pensou em tudo? - comentou Anderson, em meio a risos de todos.
   - O cara é genial, rapaz! Brother, pode contar com a gente! Nós somos os maiores interessados, e você com certeza já é nosso torcedor número um! Agora no turno da tarde vamos começar nossa campanha.. você tá livre pra ficar por aí? - perguntou Alessandro.
   - Com certeza eu tô! Já vim preparado pra isso! - Gustavo ficou extremamente feliz com a reação de todo o time. Havia preparado os discursos e ideias durante os últimos dias, e agora seria sua chance de colocar tudo em prática.
   Começaram passando de sala em sala no turno da tarde, comunicando aos alunos que gostariam de pedir investimentos para o time de futebol, incluindo as obras na quadra. Pediram para que todos comparecessem aos treinos, e que se esforçassem para ir aos jogos naquele ano. Avisaram que o time estava unido, forte e determinado a jogar para representar o nome da escola. E passaram o abaixo assinado por turmas dos três anos. Naquela tarde, e na manhã seguinte, conseguiram mais de 400 assinaturas. Quase o número total de alunos da escola, que não era muito populosa.
   Ao longo da tarde de sexta-feira, colocaram cartazes pela escola, onde falavam sobre a festa do trote, e sobre o futebol na escola. Sentiam pelos corredores, que os alunos começaram a se empolgar com a ideia. Todos perguntavam pelos jogadores, sobre quando seria o treino. Gustavo sentia que sua ideia tinha dado certo, só faltava o passo mais importante: levar o projeto até a diretoria.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Capítulo 01

Rio de Janeiro, 06 de Março de 2006

   - Mãe, to indo! Beijão!
   - Beijo, filho! Boa aula..
   - Aula não, né mãe? Primeiro dia, hoje vai ter no máximo um trote, algo do tipo. Aula mesmo, só semana que vem. Pode apostar.
   Gustavo se preparava para o seu primeiro dia de aula no ensino médio. A ansiedade era grande para conhecer novas pessoas, um novo mundo, matérias provavelmente mais difíceis, e talvez tudo o que havia visto em filmes estrangeiros – que, no fundo, ele sabia não ser tão correspondente com sua futura realidade.
   Tomou seu café, colocou uma camisa branca e foi. Logo de cara, estranhou o ônibus cheio, já que até o fim do ensino fundamental, só estudara no próprio bairro. Agora, teria que começar uma rotina um pouco mais “cansativa”, pelo menos nesse ponto. Por sorte, havia conseguido uma vaga numa escola não tão longe de sua casa. Morava em Cascadura, e estudaria agora em Maria da Graça.
   Chegou muito cedo, ainda faltava cerca de meia hora para os portões do colégio se abrirem. Na porta, só havia “calouros” como ele. Com certeza, quem já estava no 2º e 3º anos, não teria motivo para chegar tão cedo lá. Escolheu um canto qualquer da pracinha em frente ao colégio, se sentou e ficou por ali, esperando e observando.
   Pouco a pouco, via mais calouros e alguns veteranos chegando. Esses eram mais fáceis de identificar, pelo uniforme (já que ninguém recebera uniformes antes das aulas começarem) e, principalmente, pelo comportamento solto e sociável. Chegavam as vezes em bandos, gritando, matando saudades e compartilhando histórias das férias.
   Os portões do colégio se abriram, e logo os alunos do 3º ano se agruparam num canto próximo a uma quadra em obras, ao fundo do pátio principal. Era provável que estivessem tramando alguma coisa, mas no fundo, os calouros não tinham tanto medo. As histórias sobre trotes no ensino médio eram lendas entre os adolescentes, e aquilo seria quase como um ritual de iniciação obrigatório para eles. Sem o qual, não se sentiriam parte do todo. Alguns dos veteranos saíram do grupo, se dirigiram aos calouros e foram falando:
   - Pessoal, sejam bem-vindos ao Horacio Macedo. Aqui, vocês vão viver três anos inesquecíveis. Não tenham medo de nós. Aliás, tenham medo, mas não muito. Ninguém vai ser agredido, nem colocado pra pedir dinheiro no farol. Nosso objetivo é interagir com vocês, fazer amizades, e mostrar como as coisas funcionam por aqui. Mas, vamos fazer isso de uma maneira divertida, principalmente para nós. Afinal, vocês são inferiores e nós damos as ordens por aqui. E antes de qualquer coisa, vamos mostrar um pouco da escola para vocês.
   Caminharam mostrando primeiro as mesinhas na parte inferior da escola, depois subiram e passaram pelos corredores de salas de aula, apresentando os professores (que já conheciam como as coisas funcionavam ali, e não tinham esperanças em dar aula alguma naquela semana), funcionários, e a sala da diretoria, vazia. - O diretor é muito legal, mas dificilmente você o verá por aqui – comentou um dos alunos que fazia a apresentação.
   Desceram as escadas, mostraram o bosque, um lugar muito simpático cheio de árvores, ambiente muito propício para se fazer muitas coisas, e também para não fazer nada. Depois, seguiram ao fundo do colégio para mostrar a quadra.
   - Seguinte, galera. Não sei se vocês já estão sabendo, mas no ensino médio as escolas públicas e particulares disputam campeonatos de futebol entre si. Nosso colégio tem um time, espero que vocês se interessem por nos ver treinar e jogar, e se alguém quiser, que também possa fazer parte do time. Não tem distinção de idade nem série, é só chegar, treinar com a gente e jogar. O único problema é que, como vocês notaram, nós não recebemos muito apoio da diretoria. A quadra está com essas obras inacabadas, sem muita condição de jogo, e a gente acaba só disputando a Liga Municipal mesmo. E, além de as vezes, perdermos por W.O pra times de Campo Grande, Santa Cruz, e outros lugares, porque não temos condição de nos deslocar pra lá, ainda não podemos mandar nossos próprios jogos aqui. Sempre usamos quadras de rua, clubes alugados ou coisa assim. De qualquer modo, é divertido treinar e disputar alguns jogos.
   Depois dessa conversa, ordenaram os calouros em fila, e começaram a dar todo o tipo de “instrução” absurda. Mas, ainda sim, dava para ver que todos ali se divertiam. Tanto calouros quanto veteranos, quanto até mesmo funcionários do colégio. O primeiro dia de aula foi passando e se resumindo à essa “apresentação”. Na hora do intervalo, Gustavo notou que a escola era aberta, e os alunos podiam lanchar na rua à vontade, regime bem diferente das escolas de ensino fundamental que havia visto até então. Se sentou num canto da pracinha, e logo puxou assunto com um outro garoto também sentado ali.
   - E aí, cara? Vai um pouco de guaraná?
   - Opa, com certeza! Bicho, que calor!
   - Hoje tá foda mesmo. Mas e aí, é calouro também né? Eu sou o Gustavo, e tu?
   - Sou calouro sim. Anderson. Joga futebol? Me amarrei na ideia desses campeonatos aí.
   - Cara, sou muito fã de futebol, mas não jogo não. Meu negócio é torcer mesmo, freqüento estádio sempre.
   - Po, maneiro! Tu pode ser o torcedor do time. Já pensou, uma torcida organizada de escola?
   Gustavo não havia pensado. E aquilo soou brilhante para ele, num primeiro momento. Mas, era apenas o primeiro dia. E notando como outros calouros também se interessaram por todo aquele papo de futebol, começou a achar que os dias seguintes seriam o começo de uma história muito divertida, e que sua passagem pelo ensino médio poderia ser muito mais interessante que em qualquer filme que havia visto até então.
   No fim do período matinal, resolveu ir até a quadra ver o treino do time da escola. Não havia arquibancada em condições de ser ocupada, o time era composto por seis alunos apenas, e os treinos eram feitos no curto intervalo entre os turnos.
   Chegando lá, havia mais uns vinte alunos, entre calouros e meia dúzia de veteranos. Depois do time alongar e correr um pouco à volta da quadra, para recuperar a forma depois das férias, sentaram para conversar com os que assistiam ao treino.
   - Bom, gente.. nós seis somos o time de futebol aqui do Horacio. Meu nome é Alessandro, sou o goleiro improvisado. Os outros são Marcelo, Ricardo, Wellington, Felipe e Bruno. O time não é lá muito bom, mas as vezes a gente ganha alguma coisa ou outra. O bastante pra não sermos rebaixados.
   - Escuta.. por que vocês não treinam mais? Num outro horário? - indagou um outro calouro.
   - Cara, com certeza a ideia é ótima, mas acontece que a quadra não tem iluminação. Então não tem como treinarmos aqui de noite. Só dá pra treinar depois da aula da tarde em horário de verão. Mas é uma época em que praticamente não temos aula, e quando temos, não tem campeonato. Inclusive, é por isso que não botamos nossos jogos aqui, já que são todos de noite. É foda.
   Gustavo se lembrou da ideia de seu mais novo colega Anderson, sobre reunir as pessoas para torcerem pelo time. Resolveu manifestar-se a respeito.
   - Alessandro, por acaso a galera aqui do colégio se reune pra ir nos jogos com vocês, torcer e tudo mais?
   - De vez em quando vai um pessoal, mas nada demais. Como os jogos de campeonato são sempre nas terças à noite, fica ruim pra maioria. Só mesmo quem mora perto das quadras aqui da região é que acompanha.
   A conversa foi interrompida pelo sinal da escola. Era hora dos jogadores do turno da tarde encontrarem seus calouros e repetirem o processo que Gustavo já havia visto de manhã.
   - Galera, vai ter mais um treino quinta-feira! Se alguém do primeiro ano tiver interessado em participar do time, é só falar com a gente até lá. Vamos ver se conseguimos reforçar a equipe, pra pelo menos termos mais reservas.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A Quadrilha de Maria da Graça - Introdução

  Gustavo é um garoto de 14 anos, morador de Cascadura, zona norte do Rio de Janeiro. No ano de 2006, ele se matricula em uma nova escola, para cursar o Ensino Médio. No Colégio Estadual Professor Horacio Macedo, localizado também no subúrbio, no bairro de Maria da Graça, conhece um novo mundo, novas pessoas, e também é introduzido no universo do futebol intercolegial.
  As escolas de toda a cidade disputam campeonatos, que acirram os ânimos de alunos, funcionários e moradores dos bairros. Também descobre que cada escola possui tudo o que um grande time de futebol tem: uniformes, técnico, e como não poderia deixar de ser, torcidas organizadas. É aí que Gustavo, apaixonado por futebol, vê sua vida mudar.
  Ele participa da fundação da primeira torcida do Colégio, destinada a acompanhar o time por toda a cidade, enfrentando o que for. Mas, a vida dele e seus amigos não será fácil. O mundo das torcidas organizadas colegiais envolve disputas violentas nas ruas, amizades, rivalidades e intrigas. Ao longo do ano, a Quadrilha de Maria da Graça vive experências inesquecíveis, umas boas, outras nem tanto, colocando em prova seu espírito guerreiro, e por algumas vezes, até a própria relação de amizade entre eles existente.



Neste blog, os posts serão semanais, e divididos por capítulos. Cada capítulo representa um dia da história.